Estudantes da UERJ participam de intercâmbio em área atingida por usina hidrelétrica no norte do Mato Grosso

A atividade é coordenada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens e Instituto Ecótono

Foto: Comunicação MAB

Na manhã da última quinta-feira (05), 35 alunos da disciplina de Estudos Amazônicos, do curso de Licenciatura em Geografia, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, ministrada pelo professor doutor Leandro Andrei, participaram de um intercâmbio no projeto de assentamento Wesley Manoel dos Santos, também conhecida como Gleba Mercedes V, localizado a 70 quilômetros do município de Sinop, Mato Grosso.

O intercâmbio, coordenado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens e Instituto Ecótono, teve por objetivo apresentar aos alunos o projeto Caminhos do Rio, desenvolvido na propriedade Sítio Castelinho, do atingido Armando Schlindwein, que prevê o reflorestamento de uma área de um hectare, em que está sendo construído um corredor ecológico entre dois fragmentos florestais, habitat de pequenos grupos de primatas criticamente ameaçados de extinção. Em 2019, o assentamento foi atingido pela construção e operação do empreendimento Usina Hidrelétrica Sinop, que alagou aproximadamente 26.000 hectares de floresta amazônica nativa na região, e é pressionado continuamente pelo avanço do agronegócio e monocultura na região, causando uma série de impactos socioambientais, destacados no diálogo promovido no encontro.

Estudantes na área de reflorestamento no Sítio Castelinho. Foto: Coletivo de Comunicação / MAB
Estudantes na área de reflorestamento no Sítio Castelinho. Foto: de Comunicação MAB

Na visita ao corredor, os discentes visualizaram e discutiram a realidade e desafios de restituição de áreas amazônicas em ambientes tomados pelo avanço de grandes empreendimentos e monoculturas. A área de um hectare que está sendo restituída, funcionará como uma oficina a céu aberto para implementação de outras áreas de reflorestamento no projeto de assentamento Wesley Manoel dos Santos e em outras comunidades atingidas. Em 2025, as atividades no corredor ecológico se encaminham para seu terceiro ano de execução. Durante esse período, foram introduzidas cerca de 26 espécies nativas, com aproximadamente 2.200 germinações calculadas no último censo. Entre elas, árvores frutíferas como o caju, pequi, mamoninha, copaíba, pente-de-macaco, mirindiba, baru, jatobá e açaí constituem a introdução de um sistema agroflorestal que, além de promover o beneficiamento do solo e preservação de biodiversidade no espaço, prevê o beneficiamento de produtos como forma de geração de renda para as famílias atingidas. 

Primata Zogue-zogue-de-mato-grosso. Foto: Emilly Schwingel / MAB
Primata Zogue-zogue-de-mato-grosso. Foto: Emilly Schwingel / MAB

Num segundo momento, os estudantes visitaram o fragmento florestal em que reside pequenos grupos de Zogue-zogue-do-mato-grosso, um primata endêmico criticamente ameaçado de extinção. A espécie é restrita a uma pequena área do estado do Mato Grosso, especificamente delimitada pelos rios Juruena e Arinos, a oeste, e pelo rio Teles-Pires, a leste, numa região de ecótono entre Amazônia e Cerrado, sobreposta ao Arco do Desmatamento, a fronteira de expansão agropecuária em que se avança a monocultura e pasto. É justamente a perda de habitat e sua fragmentação que mais ameaça o zogue-zogue, um animal com importante papel ambiental de dispersão de pequenas sementes e manutenção de seu território.

O trabalho desenvolvido com a espécie ainda incide na promoção de turismo de base comunitária na região. A visita ao assentamento faz parte da rota de primatas do Mato Grosso, onde é possível observar, pelo menos, 14 espécies em sete locais, em um roteiro de 15 dias. A prática de macaquear, como é chamado a observação de primatas, oferece a oportunidade para conciliar a ciência cidadã, a pesquisa acadêmica, turismo e complementação de renda, sendo uma ferramenta para conservação de espécies e habitats.

Encerramento da atividade de intercâmbio com estudantes. Foto: Coletivo de Comunicação / MAB
Encerramento da atividade de intercâmbio com estudantes. Foto: Comunicação MAB

A atividade encerrou com uma roda de conversa sobre os impactos sinergéticos de grandes empreendimentos sobre comunidades e o meio ambiente. A UHE Sinop, que iniciou suas atividades em 2019, faz parte do complexo hidrelétrico Teles Pires, juntamente com mais três usinas em operação no rio Teles Pires, que banha os estados de Mato Grosso e Pará. O espaço contou ainda com uma exposição de um varal de fotos de luta e resistência a hidrelétricas no estado do Mato Grosso,  para além dos impactos do espaço assistidos pelas comunidades atingidas. 


Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 09/06/2025 por Victória Holzbach / MAB

Denúncias e reivindicações: atingidas publicam Carta Final da Jornada Nacional de Luta das Mulheres 

Fruto dos quatro dias do encontro realizado em Brasília na última semana, o documento apresenta denúncias, reivindicações e propostas para derrotar o patriarcado e construir um mundo mais justo

| Publicado 11/06/2025 por Coletivo de Comunicação MAB DF

Justiça desautoriza termelétrica a captar água do Rio Melchior, no Distrito Federal

Impactos ambientais como a captação do uso de 110 mil litros de água por hora do rio, foi um dos argumentos para embasar a decisão

| Publicado 25/11/2024

Comitê realiza intercâmbio entre países dos Sul Global para proteção de defensores de direitos humanos

Ação visa fomentar a troca de estratégias de proteção entre países e ampliar incidência política internacional no monitoramento das violências contra DDHs